quinta-feira, 2 de março de 2017

36º dia de Pomata a Estrada da Morte 470 km

36º dia
Dia 11 de janeiro de 2017
Trajeto do dia

Desmontei o acampamento e segui para Yunguyo, antes enchi o galão e 2 pets de gasolina, pois não estava disposto a negociar o preço para estrangeiro nos postos da Bolívia. Cheguei na fronteira eram 8 horas, parei em uma casa de câmbio para trocar o que me restava de Soles por Bolivianos, fiz a troca em 2:1, por curiosidade perguntei qual era a cotação de Real para Boliviano e a resposta foi 1:1, muito longe da de San Pedro de Atacama que era de 1:1,7. 
Fui então fazer os trâmites de saída do Peru. A imigração foi rápida já a aduana demorou e só tinham 3 pessoas na minha frente. A pessoa vai para uma salinha mostra a documentação e um oficial com muito pouca vontade atende o cara e faz um monte de perguntas, levei uns 40 minutos para ser atendido. Estava curioso para saber o que tanto falavam, mas na minha vez foi rápido. Entreguei os documentos o agente fez a minha saída e não demorou nem 5 minutos. Liberado para seguir, fui até o lado boliviano, fiz a imigração que foi rápida e segui para a aduana. Lá um senhor já com uns 65 anos me atendeu. Me deu uma folha impressa com os campos em branco, como a que peguei na aduana da laguna Colorada preenchida, me escreveu o nome do site da aduana e mandou eu ir preencher em alguma lan house, imprimir e voltar lá. Perguntei por uma lan house e ele me falou que tinha uma ao lado da imigração e que o cara cobrava 4 reais para preencher e imprimir o formulário. Cheguei lá para prrencher o formulário e pedi um computador para fazer, o cara disse que eu não poderia usar e que se quisesse ia ter que pagar os 4 reais para ele fazer, perguntei por outra lan house e ele falou que não tinha. Resumindo, paguei puto da cara primeiro porque era trabalho do agente da aduana fazer aquilo, como sempre foi feito nas outras aduanas, segundo porque eu não pude fazer e imprimir a folha sozinho e tive que pagar um valor acima do que deveria, caso realmente fosse necessário fazer aquilo. Puto voltei lá na aduana, entreguei o papel para o agente, que deve estar ganhando uns trocados do cara da lan house. Fiquei morrendo de vontade de falar umas verdades para aquele velho preguiçoso, mas não poderia fazer sob pena de ele não me deixar entrar. Engoli o sapo e fomos ver a moto, ele só quis ver o número do chassi e nem olhou as bagagens, voltamos na aduana ele carimbou a folha e pude seguir.

Um pouco antes de Copacabana tive que pagar 5 reais para passar pela estrada em um posto de controle de turistas. Passei direto pela cidade que não me chamou a atenção, também não tinha pesquisado nada sobre ela e estava sem tempo. A estrada que liga Copacabana até a balsa estava em boas condições e com muitas curvas. Desta estrada é possível ter uma vista do alto para o lago Titicaca, como o céu estava parcialmente encoberto a paisagem não me chamou muita atenção, frente a beleza que tinha visto no dia anterior do outro lado do lago. Chegando ao porto subi a moto na balsa feita de madeira e puxada por um motor de popa de 250 HP que levou a balsa a uns 10 km/h, pouco para aquele motor. Ao desembarcar paguei os 10 reais pedidos pelo barqueiro e segui para Huarina, onde pegaria a estrada para El Alto. Esta estrada até Huarina é perigosa, tem muitas curvas e alguns buracos e outros buracos que foram cheios com pedras de rio. Pelo meio dia parei em um restaurante onde tinha muitos locais comendo, não tinha o "almuerzo familiar" que é como o prato feito do Brasil para eles, mas tinha truta frita que era servida com arroz e batatas ao custo de 10 reais. O restaurante era um tanto sujo, tinha gato andando lá e a comida era feita do lado de fora em uma tenda, sentei do lado de dentro e aguardei servirem. Quando a moça trouxe veio apenas uma colher, tipico deles, pedi então um "cutillo" e um "tenedor" (garfo e faca). A truta estava muito gostosa e o arroz era requentado, enquanto comia vi a moça preparando o parto de outra pessoa, ela pegou a truta e as batatas com as mãos e arrumou o arroz no prato com os dedos também, mas quando ela veio me trazer o garfo e a faca ela trouxe enrolado em um guardanapo, certamente para mostrar a higiene. Fazer o que né, eu já estava comendo e continuei, o que não mata, engorda, confesso que foi meio empurrado o resto. 
Segui para El Alto, cidade acima do buraco que La Paz se encontra, a mais de 4.000 metros de altitude. A estrada está sendo duplicada em uma parte e perto de El Alto já está terminada. Chegando na cidade a duplicação termina e começam obras que impedem várias ruas e as ruas alternativas são cheias de buracos e lama. Na cidade eu ia rumando sempre para o leste, que seria a localização do Cerro Chacaltaya, perguntei algumas vezes até achar a rua que me levaria para o cerro, já saindo da cidade tinham na minha frente dois carros com placas do Brasil e eu sem saber com certeza se estava no rumo certo resolvi ir seguindo eles, afinal de contas eles só poderiam estar indo para lá também. Eles pararam em um cruzamento de estradas e eu fui perguntar para um deles se estavam indo para o Chacaltaya e a resposta foi afirmativa. Continuei seguindo eles até ter certeza que não me perderia mais. Passei eles que iam muito devagar desviando dos buracos e pedras. Quando começou a subida mais ingrime a estrada ia ficando cada vez pior, foi feita em grande parte sobre lajes de pedra, e a moto conforme ia subindo ia perdendo potência. A certa altura coloquei a primeira e sempre com o motor cheio não podia deixar a moto parar, caso contrário ela não teria forças para embalar novamente. Cheguei na parte nevada da montanha já perto do cume e perto do fim da estrada um cachorro veio correndo atrás de mim e com a moto sem forças para deixar ele para trás o que fiz foi levantar os pés e tentar manter ela andando. Cheguei então ao lado da famosa casa de máquinas do teleférico desativado. Sonho realizado e com bônus de ter neve pelo chão, o que eu não esperava ver. Fiz várias fotos, fiquei por um tempo contemplando a paisagem e então fui trocar o pinhão de 14 dentes pelo de 15 para ter um pouco mais de velocidade nas retas que teria pela frente depois de voltar para as rodovias.
Lá de cima vi que os carros ainda estavam subindo, eu já estava lá a mais de meia hora. Iniciei a descida e novamente o cachorro veio me perseguir, desta vez como ele ia chegando perto eu fui parando e quando parei ele parou também e ficou me olhando. Ao encontrar os caras dos carros brasileiros, eram bolivianos que moravam no Brasil e estavam de férias, me perguntaram se ainda estava longe e se os carros subiriam, falei que sim e eles continuaram, porém com duas pessoas em cada carro o resto estava subindo a pé, 3 de um carro e 4 de outro, ia ser uma caminhada dura até lá em cima a quase 5.300 metros.





Na metade da descida eu tinha traçado um roteiro alternativo, um atalho, para chegar mais rápido na rodovia que leva para a Estrada da Morte, um estradinha também em péssimas condições subindo e descendo morros e cruzando um rio, uma estrada que passa pouca gente, tinha apenas rastros de animais na rua. Ao deixar as estradinhas semi abandonadas eu cheguei em uma estrada maior e parei um carro que passava e perguntei se de onde ele vinha dava pra chegar na rodovia, ele falou que sim, que era atrás da montanha, mas também poderia ter me dito que se seguisse ele eu chegaria com mais facilidade. Segui então para cruzar a montanha, uma estradinha que esta sendo preparada para ser asfaltada e cheia de desvios que vai subindo a montanha, cheia de buracos e em alguns lugares com lama. Conforme eu ia subindo a estrada ia ficando pior até que cheguei na área de neblina e o frio aumentou, sobre a montanha a estrada era plana, mas com muita lama e onde não tinha lama era liso, fui andando devagar e com cuidado, mesmo assim saí algumas vezes da estrada até que comprei um terreno. 

O pneu da frente escapou e cai de lado na lama, não fosse pela luva eu tinha ralado a parte de cima da mão. Pouco depois cheguei em uma casa que era um centro de informações turísticas de um parque. Conversei com o guarda, enquanto isso a moto caiu novamente, falei que ia até a estrada da morte e perguntei como seria para achar um lugar para acampar lá, ele falou que tinha um lugar a 1 km depois da estrada da estrada. Aquela casa estava a 500 metros da rodovia para minha alegria. Segui pela rodovia com uma chuva leve até a entrada da Estrada da Morte. 




Entrei nela e no inicio uma placa indicava que era mão inglesa e a preferencia era de quem subia. Um quilômetro depois do inicio cheguei a um local onde provavelmente era cobrada a entrada do pessoal, mas como passava das 18 horas não tinha ninguém, continuei descendo e procurando um lugar para acampar, no km 10 encontrei um entrada que ia em direção à montanha, lá tinha um lugar de onde era retirado barro e não era possível ver da estrada. Lá mesmo acampei e logo começou a chuva novamente.
Quilometragem do dia: 470 km
Quilometragem acumulada: 11.910 km

35º dia de Ayaviri a Pomata 470 km

35º dia
Dia 10 de janeiro de 2017
Trajeto do dia

Saí cedinho do hotel, a ideia era chegar até La Paz saindo para a Bolívia pelo lado leste do Titicaca. Andei 70 km por estradas asfaltadas para então em Azángaro iniciar um trecho de estrada de chão de 35 km até uma cidadezinha de nome sugestivo, Chupa. Este trecho que não estava roteado no GPS e que não era de estradas sinalizadas eu tive que pedir informação diversas vezes para não me perder, não podia perder tempo, a estrada estava em péssimas condições, com muita lama, mas o visual compensou o trecho. A partir de Chupa eu segui por estradas pavimentadas, algumas com muitos buracos e ondulações passando por várias vilas as margens do lago Titicaca.


 Era perto do meio dia quando cheguei à fronteira. Para minha surpresa nesta fronteira havia apenas um posto de aduana do Peru, o oficial que me atendeu queria dar saída na moto de qqr jeito, mas não entreguei o papel à ele, dizendo que não sairia irregular do Peru e muito menos entraria irregular na Bolívia, sob pena de perder a moto na primeira barreira policial e ainda ser deportado. O jeito seria ir até Juliaca e seguir para a Bolívia por Yunguyo, teria que andar 120 km para voltar a avançar e minha viagem, ou seja, 240 km andados sem precisar, mas o visual deste lado do Titicaca não se compara ao outro lado. A água tem vários tons de azul e tem várias ilhas ao longo do lago. Almocei em uma das cidadezinhas, duas vezes, custava 4 soles, R$4,00, e depois comprei uma fruta que tem parece um maracujá, mas que tem gosto de melão e era chamada de pepino. Coisas do Peru.

Abaixo fotos do lago Titicaca e seus 50 tons de azul.




Outra coisa interessante é a quantidade de homenagens feitas a mortos em acidentes na estrada, eram muito e muitas vezes tinham aglomerados de casinhas com entre 8 e 14 casinhas do mesmo acidente, indício de que a região é muito perigosa e que certamente aconteceram com vans superlotadas, o que é comum lá.
Cheguei em Juliaca no meio da tarde, da outra vez que passei por lá foi difícil sair da cidade e desta vez não foi diferente. A cidade continua com obras em diversas ruas e com as chuvas de verão tudo parece um mangue, em alguns lugares a lama chegava no motor. Fui seguindo sempre no sentido sul para chegar ao centro e lá me informar como sair. No centro já tinham terminado as obras que tinham quando passei em 2015 e depois de algumas perguntas cheguei a estrada que fizeram nova também, no inicio da cidade, que liga Juliaca a Puno. Esta estrada é composta de várias retas e em boas condições e nela meu passatempo era contar o numero de casinhas de homenagem a quem morreu ali na estrada e cada reta, as retas tinham em média 5 km e não contei menos de 15 casinhas em cada. É a região mais perigosa de todo o Peru, se levar em consideração o número de casinhas, e logo pude ver o porque. Muitos forçam a ultrapassagem nas retas, forçando os outros a irem para o acostamento.
Passei por Puno sem parar, não era objetivo desta viagem e segui até até o entardecer, que perto de Pomata proporcionou um dos mais belos por do sol na região de montanha, até porque este foi o primeiro dia na cordilheira que não pego chuva a tarde. 
 Por do sol no Titicaca



 
Achei um bom lugar para acampar em uma pedreira as margens do Titicaca, passei a lona por cima da barraca e amarrei bem, pois ventava e loga a chuva viria.
 Local do camping.
Quilometragem do dia: 470 km
Quilometragem acumulada: 11.910 km