sábado, 11 de março de 2017

42º dia de Pérola do Oeste-PR a Guaramirim-SC 620 km

42º dia
Dia 16 de janeiro de 2017
Trajeto do dia
Acordei eram 9 horas, não estava com pressa. Tinha dormido na casa do Edson. Fomos então na padaria do Valdomiro comer "aquele" pastel arregado que ele serve lá, depois fomos trocar uns arquivos de vídeo e fotos da viagem que terminou de copiar só depois das 14 horas.
Tinha 620 km pela frente até em casa e como já conhecia as estradas me permiti rodar a noite, era o mesmo caminho que tinha feito no início da estrada.
Quando anoiteceu eu estava em Porto União, no caminho a moto começou a apresentar um defeito que já acontecia antes de iniciar a viagem. Quando passava em algum buraco ou ondulação ela falhava e piscava a luz da injeção, o problema era mal contato no rele que coloquei para dar a partida na moto sem precisar usar a chave, segui torcendo para ela não parar de vez, eu teria que tirar o baú central e desmontar a carenagem dianteira para arrumar. Perto de São Bento do Sul, no meio do nada, sem luz nenhuma, apenas as estrelas, a moto parou, joguei para o acostamento e sem outra alternativa comecei a desmontar tudo no escuro, eram 11 e pouco da noite. Eu tinha levado uma lanterna que estava no fundo de um dos baús laterais, fui pegar e estava desmontada e não tinha boa iluminação e era ruim de colocar ela em um lugar que me ajudasse, aí lembrei de um abridor de garrafa com um led que um dos colegas de Dourados me deu lá. Iluminava mais que a lanterna, consegui colocar ele de forma que iluminasse onde eu precisava, desmontei verifiquei as conexões dos relês e dei partida, funcionou, reapertei os contatos, montei tudo novamente e segui esperando que não parasse novamente.
Desci a serra e cheguei em Jaraguá do Sul, já estava em casa, mais 10 km até minha casa onde cheguei as 1 da manhã do dia 18 de janeiro. Tomei aquele banho gostoso e demorado, coloquei roupas limpas e fui dormir, pois teria que ir trabalhar as 22 horas deste mesmo dia. Conforme eu queria, consegui utilizar todos os dias de minhas férias da melhor forma possível. Muita coisa legal aconteceu nesta viagem que certamente levarei na memória para o resto da vida. E que venha Ushuaia agora.

Quilometragem do dia: 620 km
Quilometragem acumulada: 15.770 km

41º dia de Dourados-MS a Pérola do Oeste-PR 530 km

41º dia
Dia 16 de janeiro de 2017
Trajeto do dia
Acordei as 7 horas e fui tomar o café da manhã do hotel, aproveitei comer bastante já que estava incluído na diária, tomei uns 5 copos de suco de laranja e uns 5 pães com queijo e presunto e mais umas frutas. O Veimar chegou as 7:30 horas para ir comigo até uma oficina trocar a coroa da relação. Cheguei em Dourados com a coroa já pela boa, precisava trocar para chegar em segurança em casa. Fomos à oficina de um amigo dele, que não tinha a coroa, então fomo à uma autorizada da Yamaha comprar, voltamos e o cara trocou a coroa, já pedi para trocar o óleo também. Me despedi do Veimar e segui.
Meu destino seria Pérola do Oeste, no Paraná, ia passar na casa do Edson, que me acompanhou no início da viagem e do Valdomiro, o amigo dele. Novamente um dia de muito calor e estradas pouco atrativas, poucas fotos, eram apenas fazendas e plantações.
Ao meio dia parei em um restaurante de beira de estrada e ali sim comi o buffet que eu queria, por um preço justo de R$15,00.


Cheguei na casa do Edson já estava escurecendo. Fiquei um tempo lá e depois fomos para a caso do Valdomiro que estava esperando a gente com uns petiscos, logo chegaram outros colegas deles. Iriam discutir sobre uma viagem que estavam programando para o Uruguai nos próximos dias. Ficamos até perto das 2 horas das manhã lá papeando.
Quilometragem do dia: 530 km
Quilometragem acumulada: 15.150 km

quarta-feira, 8 de março de 2017

40º dia de Miranda-MS a Dourados-MS 480 km

40º dia
Dia 15 de janeiro de 2017

Trajeto do dia


O destino do dia era Dourados o Veimar me convidou para passar lá na casa dele alguns dias atrás e como consegui fazer render a viagem nos últimos dias eu tinha tempo para parar lá no fim da tarde e prosseguir na manhã seguinte, seriam 420 km de onde eu tinha acampado pelo que o GPS informava.
Segui pelas rodovias do MS, que em sua maioria passa por meio a lavouras e pastagens com um calor infernal que se fazia presente desde cedo, e eu estava cansado de tanto frio que estava passando até dois dias agora estava cozinhando. Fui até Nioaque e continuei seguindo o GPS, mas ao seguir em um trevo o GPS me mandava seguir por uma estrada em meio a uma lavoura, o barro vermelho e molhado se mostrava intransponível para a Biz, eu não poderia seguir por ali. Estudei então as possibilidades e decidi ir até Sidrolândia, adicionaria 60 km, para então voltar a seguir em direção a Dourados, cheguei lá já era meio dia e fui procurar um lugar para comer um buffet, saudades da comida do Brasil, no primeiro lugar que parei fui ver o valor e era R$39,00 por pessoa, senti saudades da Bolívia na hora. Segui procurando e na cidade os valores eram próximos a R$25,00. Parei para abastecer perguntei ao caixa sobre um lugar barato e com boa comida e ele me apontou um restaurante pequeno perto do posto, era de uma senhora que serve marmitex e buffet durante a semana, era domingo e ela não servia almoço no restaurante, mas convenci ela a me vender um marmitex para eu comer lá mesmo, R$15,00 com uma coca. Típica comida brasileira e muito gostosa.
Após o almoço segui para Dourados, parei em Itaporã e entrei em contato com o Veimar que me pediu para esperar lá que um amigo iria me buscar no posto onde estava. Veio o Lucindo me buscar e fomos a casa dele, onde um tempo depois chegou o Veimar. Conversamos um tempo lá e depois seguimos para a casa do Veimar que já tinha tudo preparado para um churrasco e esperava pelos amigos do grupo deles, o 100 Compromisso, um grupo que presa pela liberdade, sem aquelas regras e cerimônias de MCs tradicionais. Depois chegou o resto da galera e o papo rolou descontraído até quase 2 horas da manhã, então o Veimar me levou a um hotel, que eles fizeram questão de pagar. Duas estrelas, mas com ar-condicionado, banheiro no quarto, tv a cabo e café da manhã, enfim para mim foi 5 estrelas perto de todos os que fiquei na viagem e o mais importante o chuveiro era quente. 







Quilometragem do dia: 480 km
Quilometragem acumulada: 14.620 km

terça-feira, 7 de março de 2017

39º dia de Cotoca a Miranda 780 km

39º dia
Dia 14 de janeiro de 2017
Trajeto do dia

Saí de Cotoca ao amanhecer, segui pela rodovia I4 que me levaria até o Brasil. Esta rodovia estava em ótimas condições e como eu queria passar na casa de dois amigos antes de chegar em casa resolvi acelerar tudo que dava, andava entre 100 e 115 km/h, e segui assim até umas 15 horas sob um calor perto de 40º C, onde até as folhas das bananeiras estavam murchas.
Pelo meio dia eu parei em uma cidadezinha para almoçar e não achei o "almuerzo familiar" e me obriguei a comer o que tinha era uma sopa de porco, com várias partes como joelho e outras partes muito gordurosas das quais eu comi só uns pedacinhos de carne que tinha grudados na gordura. O que me salvou foi o milho, daqueles estranhos que tem lá e um pouquinho de batata e água gordurosa da sopa.
Continuei pela rodovia e em um dos postos de pedágio, que moto não paga, ao reduzir para passar uma lombada e retomar a aceleração ouvi o motor bater biela, já me veio na cabeça que ia ter que fazer o motor novamente, na viagem anterior começou a bater biela porque algumas vezes eu deixei baixar o óleo nos 3 anos que ela estava comigo. Também pensei que poderia ser em função do calor excessivo e a dilatação das peças, para saber se era isso eu comecei a andar entre 80 e 90 km/h e depois de uma hora eu parei a moto e acelerei com a primeira engatada e segurando o freio para ver se batia a biela, não bateu, ufahhh. Mais tranquilo segui até o calor diminuir andando até 90 km/h. Neste trecho de Santa Cruz até o Brasil tem trecho grande sem posto e algumas vezes abasteci comprando gasolina na rua em galões. Em uma dessas abastecidas a gasolina que foi colocada em uma pet e no fundo tinha uns 5 cm de material depositado, tive que jogar fora um litro de gasolina.
Em uma das cidades que a estrada corta eu passei uma chinezinha 150, tipo CG, a uns 100 km/h e o piloto não deve ter gostado e quis me ultrapassar, veio uns quilômetros no meu vácuo, colocando ao lado as vezes e não conseguia ultrapassar, já no fim da vila eu dei seta e ia diminuindo a velocidade e indo para o acostamento, ia parar em um posto, quando senti uma batida no baú esquerdo. O cara deveria estar distraído e não viu que eu ia parar e bateu o mata cachorro no baú, por sorte ele e eu não caímos, o baú ficou com a marca de onde ele acertou. Arrancou a tinta e massa.
Neste posto abasteci a preço de boliviano e segui até Puerto Quijarro, onde tentei abastecer novamente, mas o posto estava sem sistema e não pude abastecer. Fui até a imigração e aduana, dei saída na Bolívia e finalmente estava no Brasil depois de 39 dias.


Eram umas 18 horas quando entrei na BR 262, uma rodovia bonita que cruza o pantanal e boa parte dela é elevada sobra as áreas alagadas do pantanal e por isso um lugar para acampar era difícil de achar, já perto da noite a estrada começou a passar por lugares secos e cruzar pastagens e lavouras, segui até uns 70 km antes de Miranda, onde acampei em uma escavação ao lado de uma plantação de cana em pleno pantanal. Foi complicado dormir naquele calorão e não poder deixar a barraca aberto pela quantidade de mosquitos que tinha do lado de fora.


Quilometragem do dia: 780 km
Quilometragem acumulada: 14.140 km

segunda-feira, 6 de março de 2017

38º dia de Cochabamba a Cotoca 600 km

38º dia
Dia 13 de janeiro de 2017
Trajeto do dia

A noite foi fria, mas as roupas, saco e a manta seguraram bem. De volta a estrada logo eu estava em Cochabamba, uma cidade grande, mas fácil de atravessar com ruas largas e boa sinalização das vias. De Cochabamba eu iria descer a pré cordilheira para então começar a pegar o calor e umidade das regiões baixas da Bolívia. No meio da serra ouço um estalo vindo da relação, apertei a embreagem e deixei a moto parar no acostamento, uma cinta daquelas de amarrar palets tinha enrolado na coroa, menos mal, levei um tempo para tirar os pedaços e mesmo assim ainda ficou alguns.

 Continuei descendo e ia começando uma floresta e nela a estrada é cheia de curva em mal estado. Muitas curvas são calçadas com pedras de rios e em alguns lugares com concreto e assim segue por uns 100 km pelo meio da mata onde não é possível andar a mais que 60 km/h. Depois dessa parte ruim a estrada melhora, com poucas curvas e longas retas em meio a mata. O calor era grande e o povo aproveitava os rios de água transparente para se refrescar. A única atividade econômica na região parece ser a agricultura e a venda de bananas e outras frutas em tendas ao longo da rodovia. Parei em uma sombre e fiz meu almoço lá, bolachas e água, queria fazer render para chegar em Santa Cruz de La Sierra de dia e achar um hotel lá.

Com fome cheguei em Montero perto das 17 horas, parei em uma lanchonete e pedi 1/4 de frango assado, vinha acompanhado por arroz requentado e batata frita, custou perto de R$12,00 com uma coca 600 ml.
Cheguei em santa Cruz já com o sol se pondo e estava difícil de achar um hotel, toquei então até Cotoca, cidade após Santa Cruz. Lá achei um hotel por 20 reais com banho frio e garagem, nem liguei para o banho frio, estava muito quente e foi complicado dormir naquele calor.
Quilometragem do dia: 600 km
Quilometragem acumulada: 13.360 km

37º dia da Estrada da Morte a Cochabamba 380 km

37º dia
Dia 12 de janeiro de 2017



Quando acordei ainda chovia, continuei deitado, estava quentinho. Fiquei por mais de uma hora lá esperando a chuva passar, enquanto isso ia comendo e olhando no GPS o caminho que faria nos próximos dias. Quando voltei para a estrada já passava das 9 horas, uns 500 metros de onde acampei tinha uma choupana e nela um ciclista tinha acampado, passei por ele e continuei descendo a temida Estrada da Morte que eu não via nada de demais, quanto a perigo. A estrada é bonita, corta um paredão de montanha quase vertical e em alguns pontos o precipício passa dos 400 metros. Por ser cedo eu não passei por ninguém na estrada até chegar a cancela onde é feita a cobrança de 25 bolivianos, fica aproximadamente no km 25, para poder chegar até Coroico. Analisei comigo se compensava descer e resolvi que voltaria para não precisar pagar a passagem e também porque economizaria umas 2 horas de viagem. Na volta agora subindo pelo lado do morro fui parando para fazer umas filmagens das cachoeiras e ja desciam alguns grupos de ciclistas que insistiam em desrespeitar a mão inglesa e algumas vezes quase bati em alguns deles. Chegando novamente na choupana, parei para tirar uma foto e o ciclista vendo que eu vinha do Brasil veio conversar comigo, era um mineiro estudante de engenharia civil que tinha largado os estudo e saiu andando pelo Brasil, tinha percorrido MG, RJ, SP e MS. Quando entrou na Bolívia comprou uma bicicleta e já tinha ido até o Peru na companhia de um cachorrinho que ele acho perto da divisa do Brasil com a Bolívia. Era uma bike simples e ele ficava em uma barraca para 4 pessoas, era a terceira vez que estava andando pela estrada da morte. Ele é mais um daqueles que se revoltaram com o sistema e se jogaram no mundo, tem delírios sobre um mundo sem dinheiro e sobre viver apenas do que a terra dá, mas ainda gasta o dinheiro que a família manda do Brasil.


Abaixo uma sequência de fotos das estrada da morte







A Estrada da Morte não me impressionou em nada, nem em beleza nem em perigos, era só mais uma estrada de montanha sem asfalto. Voltei então para a rodovia, fui em direção a Coroico para ver um túnel 5 km a frente e depois voltei para seguir para La Paz. Na entrada de La Paz a estrada vira uma viela em meio a construções que no Brasil seriam favelas e vai descendo, quando cheguei no "fundo do poço" o centro de La Paz eu perguntei para um policial como fazia para ir em direção a Oruro e ele me apontou uma avenida próxima, segui sempre por ela. Esta avenida sobe o buraco e chega em El Alto e de lá vai direto para Oruro, uma estada muito boa e duplicada onde dava pra fazer render, pois era uma reta só. Parei em uma daquelas barraquinhas de beira de estrada e comprei um saco de pipoca que na verdade é um macarrão frito e parece pipoca e umas frutas para a noite e café da manhã. Segui até Caracollo onde peguei a I4 que me levaria até o Brasil. Esta rodovia esta sendo duplicada e em vários trecho há desvios, segui até antes de subir a cordilheira e em um pequena vila parei para abastecer, já estava na reserva daquela gasolina que eu trazia do Peru, após abastecer o frentista me cobrou o valor bomba, dava 39 bolivianos, dei 50 e mandei ficar com o troco, ele perguntou porque estava dando, ai falei pra ele que em outros locais era cobrado 3 vezes o valor da bomba para estrangeiros e ele não sabia disso. Ele ficou muito contente com a gorjeta.



De volta a estrada passei por um campanário não terminado de uma igreja do ano de 1600 em uma vila a 4.000 metros de altitude, depois dessa vila ainda subi mais na cordilheira e o frio do fim de tarde na cordilheira já começava a castigar, vi que não conseguiria descer a montanha antes de anoitecer e mesmo estando a 4.300 metros resolvi acampar lá na altitude pela última vez na viagem. Acampei ao lado da rodovia, atrás de uma área onde era depositadas pedras que seriam utilizadas na duplicação.



Quilometragem do dia: 380 km
Quilometragem acumulada: 12.760 km
E pra quem perdeu algum capítulo segue o endereço do blog:
http://passeandopelaamerica.blogspot.com.br/

quinta-feira, 2 de março de 2017

36º dia de Pomata a Estrada da Morte 470 km

36º dia
Dia 11 de janeiro de 2017
Trajeto do dia

Desmontei o acampamento e segui para Yunguyo, antes enchi o galão e 2 pets de gasolina, pois não estava disposto a negociar o preço para estrangeiro nos postos da Bolívia. Cheguei na fronteira eram 8 horas, parei em uma casa de câmbio para trocar o que me restava de Soles por Bolivianos, fiz a troca em 2:1, por curiosidade perguntei qual era a cotação de Real para Boliviano e a resposta foi 1:1, muito longe da de San Pedro de Atacama que era de 1:1,7. 
Fui então fazer os trâmites de saída do Peru. A imigração foi rápida já a aduana demorou e só tinham 3 pessoas na minha frente. A pessoa vai para uma salinha mostra a documentação e um oficial com muito pouca vontade atende o cara e faz um monte de perguntas, levei uns 40 minutos para ser atendido. Estava curioso para saber o que tanto falavam, mas na minha vez foi rápido. Entreguei os documentos o agente fez a minha saída e não demorou nem 5 minutos. Liberado para seguir, fui até o lado boliviano, fiz a imigração que foi rápida e segui para a aduana. Lá um senhor já com uns 65 anos me atendeu. Me deu uma folha impressa com os campos em branco, como a que peguei na aduana da laguna Colorada preenchida, me escreveu o nome do site da aduana e mandou eu ir preencher em alguma lan house, imprimir e voltar lá. Perguntei por uma lan house e ele me falou que tinha uma ao lado da imigração e que o cara cobrava 4 reais para preencher e imprimir o formulário. Cheguei lá para prrencher o formulário e pedi um computador para fazer, o cara disse que eu não poderia usar e que se quisesse ia ter que pagar os 4 reais para ele fazer, perguntei por outra lan house e ele falou que não tinha. Resumindo, paguei puto da cara primeiro porque era trabalho do agente da aduana fazer aquilo, como sempre foi feito nas outras aduanas, segundo porque eu não pude fazer e imprimir a folha sozinho e tive que pagar um valor acima do que deveria, caso realmente fosse necessário fazer aquilo. Puto voltei lá na aduana, entreguei o papel para o agente, que deve estar ganhando uns trocados do cara da lan house. Fiquei morrendo de vontade de falar umas verdades para aquele velho preguiçoso, mas não poderia fazer sob pena de ele não me deixar entrar. Engoli o sapo e fomos ver a moto, ele só quis ver o número do chassi e nem olhou as bagagens, voltamos na aduana ele carimbou a folha e pude seguir.

Um pouco antes de Copacabana tive que pagar 5 reais para passar pela estrada em um posto de controle de turistas. Passei direto pela cidade que não me chamou a atenção, também não tinha pesquisado nada sobre ela e estava sem tempo. A estrada que liga Copacabana até a balsa estava em boas condições e com muitas curvas. Desta estrada é possível ter uma vista do alto para o lago Titicaca, como o céu estava parcialmente encoberto a paisagem não me chamou muita atenção, frente a beleza que tinha visto no dia anterior do outro lado do lago. Chegando ao porto subi a moto na balsa feita de madeira e puxada por um motor de popa de 250 HP que levou a balsa a uns 10 km/h, pouco para aquele motor. Ao desembarcar paguei os 10 reais pedidos pelo barqueiro e segui para Huarina, onde pegaria a estrada para El Alto. Esta estrada até Huarina é perigosa, tem muitas curvas e alguns buracos e outros buracos que foram cheios com pedras de rio. Pelo meio dia parei em um restaurante onde tinha muitos locais comendo, não tinha o "almuerzo familiar" que é como o prato feito do Brasil para eles, mas tinha truta frita que era servida com arroz e batatas ao custo de 10 reais. O restaurante era um tanto sujo, tinha gato andando lá e a comida era feita do lado de fora em uma tenda, sentei do lado de dentro e aguardei servirem. Quando a moça trouxe veio apenas uma colher, tipico deles, pedi então um "cutillo" e um "tenedor" (garfo e faca). A truta estava muito gostosa e o arroz era requentado, enquanto comia vi a moça preparando o parto de outra pessoa, ela pegou a truta e as batatas com as mãos e arrumou o arroz no prato com os dedos também, mas quando ela veio me trazer o garfo e a faca ela trouxe enrolado em um guardanapo, certamente para mostrar a higiene. Fazer o que né, eu já estava comendo e continuei, o que não mata, engorda, confesso que foi meio empurrado o resto. 
Segui para El Alto, cidade acima do buraco que La Paz se encontra, a mais de 4.000 metros de altitude. A estrada está sendo duplicada em uma parte e perto de El Alto já está terminada. Chegando na cidade a duplicação termina e começam obras que impedem várias ruas e as ruas alternativas são cheias de buracos e lama. Na cidade eu ia rumando sempre para o leste, que seria a localização do Cerro Chacaltaya, perguntei algumas vezes até achar a rua que me levaria para o cerro, já saindo da cidade tinham na minha frente dois carros com placas do Brasil e eu sem saber com certeza se estava no rumo certo resolvi ir seguindo eles, afinal de contas eles só poderiam estar indo para lá também. Eles pararam em um cruzamento de estradas e eu fui perguntar para um deles se estavam indo para o Chacaltaya e a resposta foi afirmativa. Continuei seguindo eles até ter certeza que não me perderia mais. Passei eles que iam muito devagar desviando dos buracos e pedras. Quando começou a subida mais ingrime a estrada ia ficando cada vez pior, foi feita em grande parte sobre lajes de pedra, e a moto conforme ia subindo ia perdendo potência. A certa altura coloquei a primeira e sempre com o motor cheio não podia deixar a moto parar, caso contrário ela não teria forças para embalar novamente. Cheguei na parte nevada da montanha já perto do cume e perto do fim da estrada um cachorro veio correndo atrás de mim e com a moto sem forças para deixar ele para trás o que fiz foi levantar os pés e tentar manter ela andando. Cheguei então ao lado da famosa casa de máquinas do teleférico desativado. Sonho realizado e com bônus de ter neve pelo chão, o que eu não esperava ver. Fiz várias fotos, fiquei por um tempo contemplando a paisagem e então fui trocar o pinhão de 14 dentes pelo de 15 para ter um pouco mais de velocidade nas retas que teria pela frente depois de voltar para as rodovias.
Lá de cima vi que os carros ainda estavam subindo, eu já estava lá a mais de meia hora. Iniciei a descida e novamente o cachorro veio me perseguir, desta vez como ele ia chegando perto eu fui parando e quando parei ele parou também e ficou me olhando. Ao encontrar os caras dos carros brasileiros, eram bolivianos que moravam no Brasil e estavam de férias, me perguntaram se ainda estava longe e se os carros subiriam, falei que sim e eles continuaram, porém com duas pessoas em cada carro o resto estava subindo a pé, 3 de um carro e 4 de outro, ia ser uma caminhada dura até lá em cima a quase 5.300 metros.





Na metade da descida eu tinha traçado um roteiro alternativo, um atalho, para chegar mais rápido na rodovia que leva para a Estrada da Morte, um estradinha também em péssimas condições subindo e descendo morros e cruzando um rio, uma estrada que passa pouca gente, tinha apenas rastros de animais na rua. Ao deixar as estradinhas semi abandonadas eu cheguei em uma estrada maior e parei um carro que passava e perguntei se de onde ele vinha dava pra chegar na rodovia, ele falou que sim, que era atrás da montanha, mas também poderia ter me dito que se seguisse ele eu chegaria com mais facilidade. Segui então para cruzar a montanha, uma estradinha que esta sendo preparada para ser asfaltada e cheia de desvios que vai subindo a montanha, cheia de buracos e em alguns lugares com lama. Conforme eu ia subindo a estrada ia ficando pior até que cheguei na área de neblina e o frio aumentou, sobre a montanha a estrada era plana, mas com muita lama e onde não tinha lama era liso, fui andando devagar e com cuidado, mesmo assim saí algumas vezes da estrada até que comprei um terreno. 

O pneu da frente escapou e cai de lado na lama, não fosse pela luva eu tinha ralado a parte de cima da mão. Pouco depois cheguei em uma casa que era um centro de informações turísticas de um parque. Conversei com o guarda, enquanto isso a moto caiu novamente, falei que ia até a estrada da morte e perguntei como seria para achar um lugar para acampar lá, ele falou que tinha um lugar a 1 km depois da estrada da estrada. Aquela casa estava a 500 metros da rodovia para minha alegria. Segui pela rodovia com uma chuva leve até a entrada da Estrada da Morte. 




Entrei nela e no inicio uma placa indicava que era mão inglesa e a preferencia era de quem subia. Um quilômetro depois do inicio cheguei a um local onde provavelmente era cobrada a entrada do pessoal, mas como passava das 18 horas não tinha ninguém, continuei descendo e procurando um lugar para acampar, no km 10 encontrei um entrada que ia em direção à montanha, lá tinha um lugar de onde era retirado barro e não era possível ver da estrada. Lá mesmo acampei e logo começou a chuva novamente.
Quilometragem do dia: 470 km
Quilometragem acumulada: 11.910 km

35º dia de Ayaviri a Pomata 470 km

35º dia
Dia 10 de janeiro de 2017
Trajeto do dia

Saí cedinho do hotel, a ideia era chegar até La Paz saindo para a Bolívia pelo lado leste do Titicaca. Andei 70 km por estradas asfaltadas para então em Azángaro iniciar um trecho de estrada de chão de 35 km até uma cidadezinha de nome sugestivo, Chupa. Este trecho que não estava roteado no GPS e que não era de estradas sinalizadas eu tive que pedir informação diversas vezes para não me perder, não podia perder tempo, a estrada estava em péssimas condições, com muita lama, mas o visual compensou o trecho. A partir de Chupa eu segui por estradas pavimentadas, algumas com muitos buracos e ondulações passando por várias vilas as margens do lago Titicaca.


 Era perto do meio dia quando cheguei à fronteira. Para minha surpresa nesta fronteira havia apenas um posto de aduana do Peru, o oficial que me atendeu queria dar saída na moto de qqr jeito, mas não entreguei o papel à ele, dizendo que não sairia irregular do Peru e muito menos entraria irregular na Bolívia, sob pena de perder a moto na primeira barreira policial e ainda ser deportado. O jeito seria ir até Juliaca e seguir para a Bolívia por Yunguyo, teria que andar 120 km para voltar a avançar e minha viagem, ou seja, 240 km andados sem precisar, mas o visual deste lado do Titicaca não se compara ao outro lado. A água tem vários tons de azul e tem várias ilhas ao longo do lago. Almocei em uma das cidadezinhas, duas vezes, custava 4 soles, R$4,00, e depois comprei uma fruta que tem parece um maracujá, mas que tem gosto de melão e era chamada de pepino. Coisas do Peru.

Abaixo fotos do lago Titicaca e seus 50 tons de azul.




Outra coisa interessante é a quantidade de homenagens feitas a mortos em acidentes na estrada, eram muito e muitas vezes tinham aglomerados de casinhas com entre 8 e 14 casinhas do mesmo acidente, indício de que a região é muito perigosa e que certamente aconteceram com vans superlotadas, o que é comum lá.
Cheguei em Juliaca no meio da tarde, da outra vez que passei por lá foi difícil sair da cidade e desta vez não foi diferente. A cidade continua com obras em diversas ruas e com as chuvas de verão tudo parece um mangue, em alguns lugares a lama chegava no motor. Fui seguindo sempre no sentido sul para chegar ao centro e lá me informar como sair. No centro já tinham terminado as obras que tinham quando passei em 2015 e depois de algumas perguntas cheguei a estrada que fizeram nova também, no inicio da cidade, que liga Juliaca a Puno. Esta estrada é composta de várias retas e em boas condições e nela meu passatempo era contar o numero de casinhas de homenagem a quem morreu ali na estrada e cada reta, as retas tinham em média 5 km e não contei menos de 15 casinhas em cada. É a região mais perigosa de todo o Peru, se levar em consideração o número de casinhas, e logo pude ver o porque. Muitos forçam a ultrapassagem nas retas, forçando os outros a irem para o acostamento.
Passei por Puno sem parar, não era objetivo desta viagem e segui até até o entardecer, que perto de Pomata proporcionou um dos mais belos por do sol na região de montanha, até porque este foi o primeiro dia na cordilheira que não pego chuva a tarde. 
 Por do sol no Titicaca



 
Achei um bom lugar para acampar em uma pedreira as margens do Titicaca, passei a lona por cima da barraca e amarrei bem, pois ventava e loga a chuva viria.
 Local do camping.
Quilometragem do dia: 470 km
Quilometragem acumulada: 11.910 km