terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

33º dia de Huancayo a Andahuaylas 470 km

33º dia
Dia 08 de janeiro de 2017

Depois de uma noite mal dormida, pois o hotel tinha uma campainha que a cada vez que tocava acordava todo mundo, além de fazer eco em todo o prédio a batida de portas de todos os andares. As 6:30 horas eu já estava na estrada com céu aberto e alguma neblina pelos campos. 
Andei alguns quilômetros por uma boa estrada e logo começou uma pista simples, aquelas asfaltadas com 3 metros de largura, seriam 150 km por ela até Ayacucho acompanhando o rio Mantaro. A estrada é bonita, mas é perigosa, a estrada se espreme entre a montanha e o rio e qualquer descuido você pode ir tomar banho de rio sem querer e em alguns lugares chega a mais de 50 metros de altura até o rio. Já acostumado a andar nestas estradas estreitas e perigosas eu pilotava devagar e buzinando nas curvas muito fechadas e sem visibilidade e nesta estrada passei pelo segundo grande susto da viagem. Entrou um inseto dentro do capacete, eu estava entrando em uma curva, fui abrir a viseira quando percebi um carro vindo no sentido contrário, era uma curva para a esquerda com o rio na minha direita, consegui tirar a moto para a direita e por muito pouco na bato de frente no carro e se bato cairia no rio. O susto foi grande, chegou a formigar a língua tamanho foi o susto. 





 
Almocei em Ayacucho e continuei pela ruta 3S para tentar chegar o mais perto possível de Abancay. A chuva começou as 15 horas quando eu estava a uns 4000 metros de altitude cruzando uma cordilheira e logo começou a chover granizo fino, o frio era grande e não tinha onde se abrigar, continuei andando e o granizo foi se acumulando na pista. 

Eu andava a 20 km/h porque era perigoso andar mais rápido o pneu começava a derrapar sobre o gelo que cobria o asfalto com uma camada de uns 5 centímetros. Devo ter andado uns 10 km nestas condições e depois a chuva me acompanhou pelo resto do dia. Quando já começava a escurecer eu ainda estava descendo a cordilheira e decidi procurar um hotel na próxima cidade. O frio tortura a gente e me deixa carente por uma cama quentinha. Andei uns 50 km no escuro, coisa que não gosto de fazer fora do Brasil, até chegar em Andahuaylas.

 Achei um hotel lá por R$20,00 e fui ao mercado abastecer minha dispensa que já estava quase sem comida e voltei para o hotel, onde tomei outro banho frio, pois a água também era aquecida pelo sol que não se fazia presente em boa parte do dia.
Quilometragem do dia: 470 km
Quilometragem acumulada: 10.890 km
E pra quem perdeu algum capítulo segue o endereço do blog:
http://passeandopelaamerica.blogspot.com.br/

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

32º dia de Cerro Azul a Huancayo 370 km

32º dia
Dia 07 de janeiro de 2017

 
Saí ao amanhecer e logo estava no vale do rio Cañete, após passar a última cidade antes de começar a subir a cordilheira a pista é simples e asfaltada, não passando de 3 metros em alguns lugares, ela segue o curso do rio e troca de margens de tempos em tempos. O rio tem águas transparentes e uma tonalidade entre o verde e o azul. Ao longo do vale é possível ver várias plantações frutíferas, são maças, mangas, uvas, entre outros. São 150 km de asfalto e pista simples até chegar a estrada que leva à Laraos. Laraos é uma vila em meio a duas montanhas que ainda hoje utiliza os andenes feitos pelos incas, acredito que este deve ser um dos lugares com o maior numero de andenes que se pode observar em um só lugar, são milhares deles que sobem uns 500 metros montanha acima e a maioria ainda é utilizado pelos moradores da cidade para as mais diversas culturas de vegetais. A cidade tem ruas estreitas e as casas são feitas de pedras unidas com argila, apesar de serem parecidas com casas incas elas foram construídas pelos habitantes locais, os incas não habitavam este local, era apenas utilizado para cultivo.












 
Após a visita à Laraos segui para Huancaya, uma cidade pequenas por onde o rio Cañete passa e forma várias pequenas cascatas devido a deposição de minerais sobre as pedras represando água e formando degraus. Almocei em um restaurante estilo colonial que não vendia o menu e sim pratos a la carte, mas convencia a mulher a me fazer algo parecido e ainda num preço bom de R$8,00. Após o almoço segui subindo o rio pela estrada que o acompanha, dela pude ver várias lindas lagoas azul turquesa. Segui até achar que eu estava indo no caminho errado e uma chuvinha já caia. Olhei no mapa e percebi que eu teria que ter voltado e pegado outra estradinha logo após Laraos. Como eu tinha mudado o meu roteiro no dia anterior acabei me confundindo e rodei 15 km no sentido errado. Voltei e peguei o caminho certo que me levaria até o Cânion Uchco, ainda sob chuva e um frio que só aumentava. O cânion é impressionante, as águas que por lá correram cortaram em mais de 100 metros um bloco de pedra, o rio tem uma largura de uns 8 metros em seu ponto mais estreito, onde a estrada foi cortada na rocha e acompanha o rio. Na garganta do cânion as montanhas sobre quase que verticalmente mais de 500 metros. 

 Cânion Uchco

 Cachoeiras de Huancaya

abaixo fotos do Rio Cañete





 Portal de Huancaya

Abaixo fotos do Rio Cañete



 Abaixo fotos do Cânion Uchco


 
Passado o cânion continuei subindo a cordilheira por um asfalto que estava em obras em alguns pontos e nestes faltando era de barro. Chegando quase no alto da cordilheira começou a nevar, segui então com cuidado e a neve foi aumentando, via nos carros que vinham no sentido contrário um acumulo de neve neles o que significaria que a nevasca estava forte a frente, cheguei a pensar que a estrada poderia fechar em função da neve e eu ter que voltar, mas enquanto tinha gente vindo era porque estava aberta. O frio que sentia até diminuiu durante o tempo que a neve caiu, talvez pela emoção que sentia que desviou minha atenção para outras coisas além do frio. 






Pra mim a parte mais legal da viagem é andar na neve e tudo conspirava a meu favor neste sentido, a neve aumentou a ponto de eu não enxergar a 100 metros na minha frente. Andei quase uma hora na neve, passei por uns pastores de llhamas com elas cobertas de neve sendo recolhidas em um cercado e depois a neve parou, eram 17:30 horas já e eu estava na montanha ainda. Olhei no GPS e Huancayo ficava a 60 km de onde estava, decidi então tocar até a cidade e ficar em um hotel para tomar um banho quente. Anoiteceu quando eu estava a uns 20 km da cidade. Segui com todo cuidado, pois em muitas cidades vi que o pessoal rouba as tampas de boieros que ficam no meio da rua e também tinha a possibilidade de pedras e animais na rua.
Na cidade achei um hotel com garagem por R$20,00, mas para minha ingrata surpresa a água do chuveiro estava fria, era usado aquecedor solar e como no verão a tarde sempre chove a água não esquenta, tomei um banho de gato e fui dormir.
Quilometragem do dia: 370 km
Quilometragem acumulada: 10.420 km

31º dia de Chavin de Huantar a Cerro Azul 570 km

31º dia
Dia 06 de janeiro de 2017

Trajeto do dia

A chuva a noite fez entrar um pouco de água na barraca, pois a lona tinha alguns furinhos e ao cair sobre a barraca escorria até a costura do fundo e entrava. Tive que colocar umas roupas sujas para segurar a água que caía e não me molhar.
Amanheceu com uma garoa fina e a montanha acima encoberta de neblina. Desmontei a barraca e guardei ela molhada. 
Comecei a subir a cordilheira, que estava com obras na estrada intercalando partes com asfalto e outras sem, sempre com cuidado, pois a parte de barro estava lisa. As 7:30 horas eu estava no túnel que cruza a montanha a 4.516 msnm, o túnel Kahuish. O túnel não tem iluminação e eu que já não me sinto bem em túneis iluminados fui "cortando prego" com medo de alguma pedra ou buraco na pista, em 3 minutos estava do outro lado.




 Com os dedos congelando comecei a descer, podia ver nas encostas das montanhas gelo da última nevasca e os picos encobertos de neblina negando a mim a beleza dos picos nevados. Fui descendo e a chuva diminuindo até parar. Cheguei na Laguna Querococha e o sol envergonhado começava a se mostrar entre as nuvens e formava um belo arco-iris sobre a laguna. Tirei algumas fotos e continuei a descida até chegar novamente na ruta 3N que segui até a Laguna Conococha, onde segundo meu roteiro eu deveria pegar umas estradas de chão por mais de 200 km e outros 400 de asfalto para chegar em Huancaya e em função das chuvas e das condições das estradas que tinha pego nos dias anteriores eu optei por descer até o litoral para pegar apenas asfalto e não me atrasar muito no meu roteiro.

Trecho entre o túnel Karuish e a Laguna Conococha 





Desci então para Paramonga e peguei a Panamericana desta vez no sentido sul. Almocei em uma lanchonete à beira da rodovia e pelas 15:00 no meio do deserto a 30 km da cidade mais próxima, Chancay, vejo um cara com uma moto desmontada no acostamento, reconheço a moto pela proteção do freio a disco, era o Matus, o cara que conheci no Parque Nacional Huascaran alguns dias atrás. Parei e voltei pra ver se ele precisava de ajuda, o calor era forte, tinha rachado o tanque da moto e ele não sabia o que faria, se deixava a moto e pegava uma carona pra consertar o tanque ou se pagava alguém que se dispusesse a ajuda-lo a levar a moto até a cidade mais próxima. Comecei a avaliar uma solução paliativa para o problema para que ele conseguisse chegar até a próxima cidade. Como a moto dele é carburada poderíamos substituir o tanque dele por qualquer outra coisa, ele tinha uma PET de 2 litros e uma mangueirinha que cabia certinho no filtro de gasolina, expliquei pra ele como fazer um tanque com aquele litro, ele fez e amarrou perto do "pequeno" galão de gasolina que ele levava amarrado na lateral da moto, deu partida e a moto pegou. Ele ficou muito feliz com minha ajuda e de toda forma queria me recompensar, perguntou se eu precisava de alguma coisa e eu falei que apenas de tempo, pois estava atrasado no meu roteiro. Ele então tirou do punho um bracelete de couro que a mãe dele tinha dado à ele para eu levar como recordação e como amuleto de sorte. Mesmo não tendo o costume de utilizar qualquer tipo de ornamento aceitei em forma de respeito a gratidão dele. Acompanhei ele até a próxima cidade e segui viagem.
O eslovaco que ajudei na Panamericana
 
A moto dele não tinha placa, comprou de um brasileiro amigo dele em Iquitos e já era a terceira ou quarta vez que ele ficava na rua com ela, era uma moto de 200cc que não andava mais que a Biz, tinha pago R$1500,00 nela, iria até Cusco e venderia ela para então retornar para a Eslováquia. E dizem que eu que sou louco. Andar como moto que não é confiável em país distante e sem placa, no quesito loucura o Matus ganhou de mim, mas certamente hoje ele tem muitas histórias para contar sobre os perrengues dele com a amada chinezinha que ele me descreveu com um dicionário inteiro de palavrões em inglês o seu amor por ela.
Segui então e em uma cidade a frente parei para comprar uma lona em um material de construção. Pedi pela lona e expliquei onde ia usar, o cara viu a moto, perguntou de onde vinha e pra onde ia e depois de cortada a lona fui pagar e ele não aceitou, custaria R$12,00 aquela lona, meu primeiro patrocínio até hoje. 

Loja do cara que me deu a lona
 
Cheguei em Lima as 17 horas e o transito estava uma loucura, parecia São Paulo. Eu curto transito pesado, Lima tem poucas motos e é legal menos perigoso andar lá que no transito de nossas cidades, então quando passou por mim uma Twister da policia eu fui seguindo, andei uns 20 km atrás do policial. 





A rodovia que corta a cidade é grande, em alguns lugares tem 5 pistas em cada sentido e bem sinalizada, sendo fácil cruzar a cidade sem errar, levei cerca de uma hora pra cruzar a cidade. Após Lima passei por balneário muito bonitos que já tinha passado anteriormente, em um deles parei para comprar pão e frutas. Perto do por do sol eu procurava um lugar para acampar e achei um ótimo lugar entre dois condomínios em uma encosta rochosa coberta por uma areia fininha. Montei a barraca e depois assisti a um maravilhoso por do sol que deixou o céu vermelho.
Local do Camping

 
Quilometragem do dia: 570 km
Quilometragem acumulada: 10.050 km